A manutenção deve ter um sistema de gestão eficiente e fornecer produtos
de qualidade (serviços prestados) aos seus clientes. Para o conseguir, deve
definir-se uma cadeia de valores tendo em conta os interesses dos seus stakeholders
e o desenvolvimento dos seus processos deve basear-se na criação de valor
e redução de desperdícios, com foco na inovação constante e a busca pela
perfeição.
Os sistemas de manutenção são com frequência desenvolvidos sem ter em conta
os recursos existentes e tendo por base sistemas burocráticos que tornam os
processos pesados e pouco eficientes. Estes sistemas provocam a inoperacionalidade
das equipas que estão no terreno e a criação de sistemas paralelos de
funcionamento. Como exemplo, dos diversos casos existentes, referencio os
seguintes:
- Ordens de trabalho com excesso de passos e aprovações no seu fluxo normal, o que provoca diversas ineficiências operacionais, perdas de tempo e cria um incentivo a realizar trabalhos fora do sistema que não ficam registados;
- Processos complexos para levantar spares de armazém e dificuldade na sua devolução em caso de não serem utilizados, o que provoca um funcionamento deficiente na gestão de stocks e acumulação dos mesmos em sistemas paralelos;
- Trabalhos executados sem ordens de trabalho, o que causa falta de registos sobre os trabalhos desenvolvidos, e simultaneamente excesso de tempo registado nas horas de outros trabalhos para compensar os tempos em falta;
Quando nos encontramos numa situação idêntica o que devemos fazer???
A Engenharia de Processos ou em muitos casos a Re-engenharia pode ser uma solução a considerar, na qual os processos existentes são analisados e alterados com o principal objectivo de os adequar aos recursos disponíveis e tornando o departamento de manutenção mais eficiente.
Este tipo de projecto deve ser dividido em duas fases:
- Conhecer a realidade actual do sistema de manutenção. Nesta fase deve ser recolhida toda a documentação existente e que serve de apoio ao funcionamento diário da manutenção, conhecer os fluxos de informação do departamento e toda a gestão documental. Recolher as informações dos sistemas paralelos criados pelos colaboradores da manutenção e que estes têm e guardam como recurso para as suas actividades diárias.
- Redefinir todos os processos da manutenção e desenvolver os respectivos fluxogramas. Para o desenvolvimento do fluxograma deve ter-se o máximo de informação sobre os processos e, sempre que possível, ter as seguintes informações:
- Tarefas
- Descrição completa das tarefas;
- Identificar a tarefa anterior e a seguinte;
- Definir os diversos passos para a correcta execução da tarefa;
- Recursos
- Intervenientes na execução da tarefa;
- Tempo previsto para a execução da tarefa;
- As valências necessárias para a correcta execução da tarefa;
- Materiais e ferramentas necessárias;
- Métricas
- Definir métricas para medir a eficiência do processo desenvolvido.
A equipa que está definir/redefinir os processos da manutenção deve ter sempre consciência que o principal objectivo é ter uma manutenção Lean e altamente eficiente. Dos diversos pontos a ter em consideração quando definimos os processos destacam-se os seguintes:
- Eliminar duplicação de tarefas;
- Eliminar passos desnecessários e que não criam valor;
- Eliminar os excessos de aprovações e verificações;
- Reduzir os documentos em circulação aos estritamente necessários;
- Dar a prioridade correcta aos trabalhos em execução;
- Validação rápida e eficaz dos trabalhos urgentes e a sua correcta priorização;
- Reduzir os possíveis desperdícios nos trabalhos (os trabalhos correctos, com os colaboradores e ferramentas necessárias, nos equipamentos prioritários);
- Gestão eficiente do armazém de spares;
Fica como referência que existe uma ferramenta que ainda não é muito conhecida mas é muito útil para desenvolver os fluxos da manutenção é a "SWIMLANE". Esta ferramenta é muito intuitiva e facilita bastante a identificação de passos que podem ser eliminados, tornando assim os processos mais eficientes. Num próximo artigo irei desenvolver esta ferramenta que justifica um artigo dedicado.
Conclui-se assim que um sistema de gestão de manutenção bem desenvolvido e eficiente deve ter como base um conhecimento profundo de todas as actividades da manutenção e o desenvolvimento dos processos respectivos, tendo sempre como foco a criação de valor. Os processos devem ser revistos e actualizados com a frequência necessária, uma vez que o sistema deve estar num ciclo de melhoria contínua constante.
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